“O homem é um animal de hábitos”. Certamente já ouviu este provérbio algumas vezes e ele tem toda a razão de existir. Nós, seres vivos, vivemos – e sobrevivemos – graças a hábitos que vamos adquirindo ao longo da nossa vida. Aprendemos a caminhar, aprendemos a manter-nos quentes ou aprendemos a proteger-nos do perigo, tudo isso praticamente de uma forma automática.

É um dado adquirido que nós somos aquilo que repetidamente praticamos, mas como será que isso influencia o nosso cérebro em termos físicos? Seríamos nós, capazes de modificar alguns dos nossos hábitos alterando a estrutura física do nosso cérebro? Os hábitos afetam em muito a produtividade, independentemente de você ser um freelancer, um empregado a tempo inteiro ou até um estudante. Os hábitos são responsáveis por grande parte das suas escolhas no dia-a-dia.

Entre hábitos bons e maus, o nosso cérebro vai escolhendo aquele que melhor está desenvolvido. Para perceber como eles surgem, vamos olhar um pouco para as dicas explicadas no livro de Charles Duhigg, “O Poder do Hábito”. Obviamente ele aborda vários pontos (e iremos falar sobre eles no futuro), mas agora vamos focar-nos em perceber como surgem os nossos hábitos.

Se você gosta de temas relacionados à produtividade, dê uma olhada nestes posts:

O nosso cérebro é preguiçoso (e muito inteligente ao mesmo tempo)

Antes sequer de avançarmos para as próximas linhas, fique sabendo uma novidade: o cérebro é um dos músculos mais preguiçosos do seu corpo humano. Mas ele é perigoso no “bom sentido” e nas próximas linhas irá perceber o porquê.

A criação de hábitos começou a ser estudada, mais intensamente, a partir de 1990, nos Estados Unidos. Naquela altura, os cientistas focaram-se principalmente num pequeno tecido neurológico conhecido como gânglios basais. Foi nesse momento que eles começaram a considerar os gânglios basais como sendo um fator essencial para a criação de hábitos.

Banner menor

Essa conclusão chegou depois dos cientistas verificarem que os ratos de laboratório que tinham lesões nos gânglios também tinham problemas com tarefas comuns, tais como atravessar labirintos ou abrir recipientes de comida. Para terem a certeza do que estava a acontecer, os cientistas fizeram uma experiência simples: inseriram um pequeno joystick com alguns fios nos cérebros dos ratos. Depois, os cientistas soltaram alguns ratos num labirinto.

rato-no-laboratório

O percurso era bastante simples: era aberta uma porta com um pequeno clique e os ratos saiam para investigar o restante espaço. Esse mesmo espaço continha, mais à frente, uma parede para a direita (que estava vazia) e uma parede para a esquerda (onde estava um chocolate). Passando algum tempo, grande parte dos ratos descobria a recompensa. Quanto mais praticavam, mais rapidamente acabavam por encontrar o chocolate. Óbvio não?

Neste estudo, a grande revelação esteve ligada à análise do cérebro dos ratos. Depois de visualizarem os gráficos, os cientistas perceberam que cada vez que um rato farejava ou arranhava uma parede, o seu cérebro – e especialmente os gânglios basais – ficavam repletos de atividade. Ou seja, os gânglios basais estavam a ser responsáveis por praticamente todo o processamento de informação.

Outro pormenor muito interessante é que, depois de repetirem o processo várias vezes, os cérebros dos ratos demonstravam uma atividade cada vez menor. Era como se, depois do esforço, o cérebro decorasse o caminho e começasse a funcionar de forma automática.

A imagem que vocês vão ver logo abaixo demonstra o cérebro de um rato que frequentava o labirinto pela primeira vez:

Captura-de-ecrã-2013-12-2-às-19.22.59

E esta outra imagem representa o cérebro de um rato depois de percorrer o labirinto várias vezes:

Captura-de-ecrã-2013-12-2-às-19.25.25

Viu as diferenças? Enquanto no primeiro gráfico o cérebro estava em constante atividade, no segundo gráfico ele apenas deu maior foco no início da atividade e no fim, quando o rato pegava o chocolate. Isso aconteceu porque o cérebro identificou aquelas tarefas como hábitos e apenas teve mais alguma atividade no momento que surgiam as novidades, que naquele caso eram a abertura da porta e a descoberta do chocolate.

Nota: Estes padrões são conhecidos como chunks e temos dezenas deles no nosso cérebro. É por isso que você sabe andar sem muito esforço, é por isso que sabe nadar sem pensar muito nisso ou até mesmo comer sem pensar em todos os movimentos que necessita de fazer. Por mais complexos que alguns hábitos possam parecer no início, a verdade é que a partir do momento em que eles ficam armazenados nos nossos tecidos, pouco ou nenhum esforço exigem ao cérebro.

Estes hábitos surgem porque o cérebro está o tempo todo procurando por formas de poupar esforço. Os hábitos também permitem que a nossa mente fique mais relaxada. Lembra o quão difícil era quando você aprendeu a ler? O seu cérebro parecia estar a fazer um esforço enorme para ler meia dúzia de palavras. Agora você faz isso praticamente…sem pensar.

O loop dos três estágios

Segundo Duhigg, todo este processo dentro do nosso cérebro está dividido em três fases. Em primeiro lugar existe um estímulo que diz ao seu cérebro para entrar em forma automática. Depois existe a rotina, que são os atos que você comete depois de identificar o estímulo. E no final existe uma recompensa. Esta recompensa diz ao cérebro se vale a pena continuar ou não com aquele hábito.

Vejamos o exemplo das pessoas que fumam. Ao verem um cigarro ou ao sentirem a falta de nicotina, identificam o estímulo. Depois existe a rotina, que passa por pegar o cigarro e começar a fumar. E por último existe a recompensa, que é o seu corpo a sentir um alívio/excitação devido aos químicos fornecidos pelo cigarro.

A imagem abaixo representa muito bem o que acontece:

ciclo-do-hábito

Isso permite-nos chegar a uma conclusão muito simples: quando um hábito surge, o cérebro tem pouco poder de decisão. Tudo torna-se tão automático que nós já não fazemos escolhas e acabamos por sermos levados por aquilo que foi aprendido.

Como isso influencia a minha produtividade?

Perceber como os hábitos funcionam é uma forma de começar a perceber o porquê de muitas das suas atitudes. Você já parou para pensar:

  • Porque motivo vai tantas vezes ao email?
  • Porque motivo está sempre verificando o seu Facebook?
  • Porque motivo está, tantas vezes, vagueando na internet sem ter noção de que isso está acontecendo?

Todos os hábitos negativos que o fazem perder tempo têm uma deixa, um hábito e uma recompensa. Peguemos no exemplo do vício do Facebook. Você começa a sentir-se entediado no seu trabalho (a deixa), abre o Facebook (hábito) e começa a ver novidades (recompensa).

Ter hábitos é bom, mas o problema é que o cérebro não diferencia um hábito ruim de um bom hábito e dá prioridade àquele que tiver mais desenvolvido. Isso explica o porquê de ser tão difícil fazer dieta, por exemplo. Você até pode tentar criar o hábito de comer menos, mas cada vez que você visualizar um donuts ou um cachorro quente você vai reativar o hábito antigo, que por sinal ainda está bastante desenvolvido no seu cérebro. Os hábitos são sempre processos longos, tanto para serem adquiridos como para serem eliminados.

Voltando novamente à questão dos gânglios basais, é por isso que muitas pessoas que têm acidentes nestas áreas não conseguem voltar a realizarem coisas básicas como abrirem uma porta ou decorarem uma viagem de carro: o seu cérebro perdeu a capacidade de gravar novas informações. Para ele tudo é novidade!

Outro exemplo muito concreto dado no livro é o do McDonald’s. A marca norte-americana tem a mesma aparência em todos os estabelecimentos e o que os funcionários dizem é exatamente o mesmo. Isso garante que você, cliente, tenha uma sensação de que está visitando o mesmo local várias vezes, tornando-se assim mais facilmente cliente assíduo do McDonald’s, independente da cidade onde você está. Você cria o hábito de ver a mesma estrutura, ser atendido da mesma forma e no final, receber a recompensa habitual.

É possível mudar hábitos?

Obviamente, é possível alterar os hábitos da sua vida. Apesar do nosso cérebro gravar toda a informação e funcionar de forma automática, você pode modificar a forma como ele trabalha. Existem várias estratégias para você eliminar maus hábitos e substituir por outros que possam melhorar a sua vida. Mas isso deixamos para outro post. O importante a lembrar deste nosso primeiro artigo sobre o tema é que:

  • Você é muito menos inteligente do que acredita ser.
  • O seu cérebro não é 100% controlado por você (pelo menos à primeira vista). Grande parte das suas escolhas são baseadas em hábitos.
  • O nosso cérebro decora hábitos, de forma a exigir menos esforço em tarefas futuras.
  •  Todos os hábitos têm um loop, que está dividido em: deixa, rotina e recompensa.

Obviamente grande parte do segredo está em você conseguir modificar a deixa, alterar a rotina e procurar uma recompensa. Mas isso fica para outro post. Para já quero escutar um pouco da vossa experiência:

  • Tinha ideia de como os hábitos funcionavam?
  • Já tentou mudar algum hábito da sua vida? Diga-nos qual!

Abraço,

Luciano Larrossa

Masterclass Gestor de Tráfego

Aprenda a dar os primeiros passos numa das profissões que mais cresce em Portugal.

    Descubra como pessoas que sabiam ZERO sobre Marketing Digital conseguiram através de uma profissão mudar de vida e conquistar ganhos de mais 1000 euros por mês