Há alguns dias li o seguinte comentário em uma comunidade de tradutores no Facebook: “Escrevem dos EUA, fazendo mil perguntas sobre minha experiência e especialização, que programas eu uso, que isto, que aquilo, que aquele outro. Só não perguntaram quanto eu cobro”. Daí surgiu a ideia de escrever algo sobre a relação entre os preços cobrados e a qualidade dos serviços prestados pelo tradutor. Os preços desleais praticados no mercado da tradução por alguns profissionais, têm se tornado um dos fantasmas que rondam os rincões dos Home Offices de muitos tradutores freelas ao redor do mundo, que tentam viver da tradução e levar uma vida digna.
Eis que, cada vez que falamos sobre o assunto “preço que devemos cobrar”, se levanta a seguinte questão: Os clientes contratam um tradutor pelo “preço que ele cobra” ou pela “competência que ele possui”?. Pelos cases que já observamos, a impressão que fica é que a maioria dos clientes querem contratar as duas coisas; ou seja, querem contratar competência a preço de banana. O mais triste é que há tradutores que, seduzidos por alguns trocados ou pela falta de serviço por um tempo prolongado, acabam cedendo e vendendo seu tempo e seu conhecimento por um preço irrisório; um preço quase simbólico, diria eu. Mas não vai adiantar falar aqui sobre os preços sugeridos pelos sindicatos e associações de tradutores espalhadas pelo mundo, nem valerá a pena entrar no mérito da questão se a prática de cobrar barato é ética, ou profissionalmente aceitável ou não.
Seria ótimo se todos os verdadeiros profissionais se unissem e, unidos, criassem uma blindagem para proteger a categoria das práticas abusivas, e muitas vezes inescrupulosas, de algumas agências e, – por que não? -, de alguns clientes, também. Mas isso é difícil. O máximo que vejo por aí são algumas manifestações acaloradas em alguns blogs e comunidades nas redes sociais, como o comentário que citei no início do post.
Mas afinal, como formar um preço justo, que respeite a relação cliente-tradutor, na qual ninguém saia prejudicado? Ou seja, uma relação na qual que o cliente receba um serviço de ótima qualidade e que o tradutor não tenha que virar um zumbi diante do computador, submerso em uma verdadeira sopa de letras, correndo contra o tempo e trabalhando como louco para manter as suas contas em dia. Então, aqui vai algumas soluções ao dilema, que consegui garimpar nos comentários de alguns tradutores, nas redes sociais da Internet:
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1. SER FIRME NA SUA PRÓPRIA POLÍTICA DE PREÇOS
Independentemente do preço cobrado pelos outros tradutores, ou pelos preços sugeridos por aí, fixe o seu próprio preço, com base na sua bagagem profissional e de olho no mercado. Mas tome o cuidado para não ficar muito abaixo e nem muito acima da média cobrada pelos profissionais de ponta.
2. RESPEITE O SEU PISO E NÃO RETROCEDA
Não dê voltas ao assunto. Quando alguém perguntar o seu preço responda rápido: “Eu cobro tantos centavos($) por palavra.” Mas, claro, esteja preparado(a) para o “chororô”. Defina também um piso e respeite-o; nenhum centavo a menos e pronto! Digo isto, por que sempre haverá algum tradutor que, seja por necessidade ou por malandragem mesmo, dirá: “Olha, o sindicato(ou o fulano) cobra X mas eu cobro só Y”.
3. NÃO IGNORAR INICIANTES
Os iniciantes cobram pouco; às vezes nada. É normal. Mas é justo? Não. Ocorre o mesmo em todas as outras profissões. É algo assim parecido com um estágio. Por isso mesmo, no primeiro ponto eu coloquei para cobrar com “base na bagagem profissional”. Mas é importante que, inclusive os iniciantes, não se rebaixem tanto. Lembre-se que é necessário acostumar bem seus primeiros clientes: pois, se você cobrar muito barato agora, no início, será muito difícil aumentar o preço para os mesmos clientes quando você for mais experiente.
4. PREPARE-SE PARA A MALANDRAGEM DE ALGUNS CLIENTES
Neste ponto, é muito comum ouvir os clientes brigando por preços. Não há nada de errado nisto. É algo esperado e, inclusive, muito comum no mercado. O problema é quando o trabalho do tradutor parece estar sendo desprezado e desconsiderado. A principal estratégia de quem está barganhando preços é jogar as famosas frases: “Já temos outras cotações”, “Ah, mas eu consigo mais barato” ou “Por esse preço eu prefiro fazer eu mesmo”.
Desta forma, tentam pressionar o tradutor a baixar ainda mais o seu preço. Mas essas desculpas são velhas. Não caia nessa! Mesmo que elas sejam verdadeiras, ficou claro que o cliente está à procura de preço e não qualidade. Insista na qualidade da sua tradução e no quanto ela vale. Resista-se a “cobrir” os outros orçamentos, agradeça o contato e parta para a próxima.
5. NUNCA DIGA QUANTO COBRA POR PALAVRA
Esse é um macete e tanto. A maioria dos que perguntam quanto você cobra por palavra, pode estar “investigando” os preços praticados pelo “concorrente”; neste caso, você. Calcule o volume de trabalho e as horas que gastará traduzindo, ou dias que serão consumidos na execução da tradução, e somente depois de ter o cálculo definido passe o orçamento. Só isso. Se o seu orçamento for aprovado, então dê os detalhes ao cliente.
Pondere ler: Como formalizar o trabalho de tradutor freelancer
Fora estes cinco pontos apresentados até aqui, cada tradutor deve atinar às suas próprias experiências, vivências e soluções a este tipo de problema. Além disso, o ser humano é imprevisível, às vezes. Por isso, é muito difícil descobrir como será a reação do cliente quando souber o preço que vamos cobrar. Por exemplo: Já houve casos do tradutor cobrar um preço muito acima da média, obviamente esperando o famoso chororô por parte do cliente. Porém, para sua surpresa, o cliente não esbanjou nenhuma reação contrária e aceitou o preço sem contestar em nada. Neste caso, seria interessante o próprio tradutor oferecer um desconto ao final do projeto.
PREÇOS DA TRADUÇÃO VS QUALIDADE DO SERVIÇO PRESTADO
Já que estamos falando de preços e, de certa forma, puxando a sardinha para o lado do tradutor, vamos tratar de fazer um contrapeso, falando da qualidade na prestação de serviços de tradução, que é o que realmente importa para o cliente, e o que deve ser entregue pelo profissional, independentemente do preço que aceitou cobrar pelo serviço. Para exemplificar esta parte do nosso artigo, vamos levar em consideração o cliente-empresa, que é quando quem solicita a tradução é uma pessoa jurídica.
Sabemos que o propósito de toda empresa exportadora ou importadora de produtos, ou prestadora de serviços em mais de um idioma, é ampliar os seus negócios. O problema para estas empresas é que nem sempre sabem diferenciar entre uma tradução de qualidade excelente, que quase sempre é mais cara, da tradução mais barata, que deixa muito a desejar no seu resultado final.
Geralmente, as traduções de baixo custo são realizadas por tradutores inexperientes, não nativos, sem qualificação ou, em um caso extremo de economia, são realizadas pela própria empresa nas ferramentas de tradução automáticas, como o Google Translator e o Babylon. Isto gera textos repletos de erros de tradução, falhas ortográficas, frases incoerentes etc. Na maioria destes casos, o texto traduzido chega a perder totalmente o sentido original.
CONSEQUÊNCIAS DAS TRADUÇÕES MAL FEITAS
As consequências de um serviço mal feito, em qualquer área de atuação, sempre serão consideradas graves. Não só do ponto de vista financeiro, com a suposta economia obtida por pagar menos por um serviço que está longe de ser barato, mas também de reputação e de marketing empresarial; uma vez que o produto, acompanhado da sua tradução, terminará nas mãos dos seus futuros clientes.
Vamos ver algumas possíveis consequências de uma tradução mal feita para empresas e prestadores de serviços:
1 – Alguns clientes são grandes observadores e leem tudo relacionado ao produto ou serviço. Ao notar erros no texto podem perder totalmente a confiança nos produtos ou serviços oferecidos.
2 – A imagem corporativa empresarial pode ver-se danificada, pois ficará evidente que a empresa sobrepôs o preço à qualidade da tradução das valiosas informações dos seus produtos.
3 – Dependendo do tipo de serviço ou produto oferecido, uma tradução mal feita pode representar uma ameaça à segurança pública, por exemplo: manuais de máquinas, produtos farmacêuticos, receitas culinárias etc.
4 – Erros de tradução em textos como contratos, testamentos, declarações, sentenças etc, podem resultar em problemas legais.
5 – Um tradutor automático na Internet ou algum tradutor humano que não zele pela qualidade, provavelmente não conseguirão realizar uma tradução fiel. Fato que pode prejudicar a mensagem transmitida e forma como ela será recebida e interpretada pelo leitor final.
Neste artigo, basicamente, abordamos dois pontos:
Primeiramente, vimos que o tradutor deve ter bem claro quais são seus objetivos e limites de preços(máximo e mínimo). E que, também, deve ser suficientemente esperto para não terminar no prejuízo, tendo que trabalhar muito por um salário irrisório.
Em segundo lugar, observamos que o cliente-empresa que zela pela sua reputação nunca optará pelo menor preço das traduções dos textos referentes aos seus serviços ou produtos. Simplesmente, porque não é a sua intenção colocar em jogo a sua imagem corporativa e a sua reputação.
Em todos os casos, o equilíbrio deve ser atingido. E, tanto tradutor como os seus clientes, deverão chegar a um meio termo, onde ambos terminem ganhando. Pois, de um lado, o tradutor freelancer talvez nunca fique rico traduzindo; do outro, a empresa talvez não venda mais por conta de uma tradução bem feita. Porém, juntos, podem tratar de otimizar seus resultados. Para que isto ocorra, o tradutor deverá investir em capacitação e experiência; e a empresa, deverá entender que o barato pode sair caro, e que pagar mais por uma boa tradução, pode ser um ótima decisão empresarial, com gostinho de um bom investimento.